domingo, 20 de janeiro de 2013

NEVERLAND


Todo solteiro sabe que ser avulso tem algumas vantagens indiscutíveis. Por exemplo: poder dormir com hipoglós no nariz, quando ele está assado, sem a chance de provocar um AVC no companheiro. Ler com a luz do abajur acessa do lado da cama até a CEEE cogitar o corte. Escolher suas férias, seus horários, sua comida e ir ao cinema sem falar sobre o filme ou dividir o pacote de pipoca. Mas existe algo que eu invejo nos casados: não precisar ir a caça ou ser caçado a cada final de semana.

Eu gosto de noite, tem lugares em que tudo faz sentido a ponto de fazer você querer tatuar boemia na testa. Mas o ritual de acasalamento nas casas noturnas só consegue me dar vontade de comprar um estoque de calças de moletom e assistir a 14 gigas de seriado a cada sábado. Tudo começa com o ritual, você e seus amigos (solteiros) combinam de conhecer aquele lugar novo, badalado, que está todo mundo falando bem. E todo mundo dizendo que é bom, costuma ser igual a filmes que todo mundo adora: sucesso de bilheteira com pouco conteúdo interessante.

Então, você toma banho, faz escova, consulta a Susan Miller, pinta o olho, escolhe uma roupa que  dificulta brutalmente o processo de respiração e coloca um belo sapato. Desses que vai fazer você sentir a mesma dor nas pernas que um maratonista com a tíbia quebrada no final de uma prova. Ao chegar no lugar, você enfrenta a fila. A fila é um lugar ótimo onde a maioria das pessoas fura ou bebe, enquanto a casa noturna te deixa lá para ver se faz movimento e mais gente entra na fila. Após duas horas, você cruza a porta de entrada do local e ruma ao único lugar correto a 1h30 da manhã: o bar. Nesse momento, com uma long neck de R$12,00 na mão, a aventura começa.

A pista, lotada, toca uma música ruim numa altura em que é um desafio para qualquer tímpano sair ileso. As pessoas, supereducadas, pisam em você, empurram, derrubam cerveja no seu cabelo (já com a escova derretida) e piranhas loucas (com a escova intacta) dançam no ritmo do funk mesmo que esteja tocando Sinatra. Nesse momento, você pensa que deve estar na hora de voltar para o bar, um lugar que é mais a sua cara. Lá, 3800 meninas com sminorffs Ice quentes estão encostadas no bar. Próximo a elas, um coletivo de homens com long necks com guardanapo chegam junto com perguntas que fazem qualquer mulher se apaixonar no ato "E aí, tá gostando da festa?" ou "O que tu faz, gata?" ou "Tá torcendo pra quem no BBB?". Alguém me mata? Sério que estou gastando R$100 nisso? Por que não comprei uma pizza?

Enfim, você vê um cara interessante, o seu número, ao contrário do sapato que já dilacerou o lado direito do seu pé. Ele te olha, você olha de volta. Ele te olha, você olha de volta. Ele te olha, você olha de volta. Após 30 minutos, ele chega (Glória, glória, aleluiaaa. Glória, glória, aleluiaaa. ). Ele chega, gato. Parece um tigre sondando a caça, totalmente animal planet. E daí ele diz: "Oi, gata. Me diz uma coisa. você tem pó?". Oi? Tenho cara de quem cheira? "Não guria, pó de arroz. To suando muito e minha pele tá brilhosa". Fim da noite. Ele era gay.

Finalmente você chega em casa, a alegria do lar. Suja o travesseiro de lápis de olho, toma uma aspirina preventiva e encerra os trabalhos. No outro dia, encontra os amigos pra fazer o balanço da noite e pensar que na semana que vem vai ser melhor. Afinal, se você não fizer isso como vai conhecer alguém pra dividir a calça do moletom, ir direto para o bar e compartilhar a aspirina? Põe meu nome na lista, eu vou.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

PASSAGEM SÓ DE IDA

Publicitário quando nasce ganha de presente um leãozinho de pelúcia e um anuário. Quando começa a andar sozinho, já sabe o nome de todos os personagens do livro colorido, o poder dos pantones e que a Asgard da propaganda brasileira fica no sudeste. Como toda história em quadrinhos, o jovem aprendiz tenta de todos os jeitos chegar até Asgard, sem sucesso e sem resposta. Um dia, a mensagem chega de um jeito totalmente mitológico: por celular. E quando ele percebe, está arrumando as malas.

Eu sempre me imaginei morando em muitos lugares. Já mandei o portifólio para a Russia, Novo Hamburgo e para Dubai, mas passei boa parte da vida entre Guaíba e Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Por mais longe que eu fosse, nunca tinha comprado uma passagem só de ida. O momento é tenso, você escolhe a data, seleciona o horário, respira fundo, olha umas quatros vezes cada informação e clica em ok. E aí, instantaneamente, tudo fica diferente.

Parece que colocaram um filtro de Instagram na rotina. Fico prestando atenção no meu caminho de casa para o trabalho. Observando o cara que faz churrasco no latão e não ligando para o cheiro de fumaça que fica no meu cabelo, faço questão de falar com o sindico e comer mais um espetinho de coração no Miau da Cabral. Vejo meus amigos meio que em câmera lenta, pensando se as coisas vão continuar iguais nos dias em que eu não estiver com eles. A Polar não me parece mais tão aguada e o Speed quase brilha, acredito que por culpa da gordura, mas isso não quebra a magia das coisas. Parece um fim de namoro, uma quase morte, em que tudo de ruim some e ficam apenas as coisas boas em tons pastéis.

Porém, por mais bucólico que tudo posso parecer, você não se sente o Atreyu partindo enfrentar o nada. É uma empolgação boa. O que você vai colocar na mala? Como será o meu próximo apartamento? Quem eu vou conhecer por lá? Como vai ser o trabalho? Será que eu vou ter que comer feijão por cotas? Preto nos sábados, marrom nos dias de semana? Qual vai ser o próximo show que eu vou ver? Falaram de um tal de Astronete, será que vale tentar? Será? Será? Será? Nada melhor do que essa sensação de que nada está estático, principalmente quando se pode lembrar que existe um lugar que você ama tanto que jamais será passado e um completamente novo, como todo futuro deve ser. Partiu, São Paulo. Estou chegando.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

HOMO SAPIENS, CARNEIROS E TRANSPLANTES


Desde que os primeiros Homo Sapiens conversavam em volta da sua fogueirinha com seus leões de estimação, toda história que chega ao fim vem acompanhada da frase “o coração não escolhe”. Mentira! 


Você está em uma festa, aquele clima “American Pie”, cerveja barata, música, pessoas transtornadas, chamas eternas. Daí em meio ao caos alcoólico que toma conta do ambiente, você beija o barbudinho com cara de falta de banho. Ok! Ele pega o teu telefone, teu email, teu Gtalk, teu RG e te manda um SMS no outro dia. Nesse momento, você decide se a sua reação vai ser “Olhaaaa e uma carinha feliz” ou “Afeee, que saco. Quem é esse mesmo?”. 


Tá certo que ele ter um cabelo legal ajuda, saber qual a melhor música dos Vaccines faz toda a diferença, escolher os links certos na hora perfeita faz parecer tudo mais legal, quem sabe ter tatuagens seja uma boa, mas o que faz mesmo tudo acontecer é você estar pré-disposta a girar a roleta e ver se o número é de sorte e você vai abrir um espaço na  sua vida, na sua agenda, no seu pensando para esse novo Homo Sapiens que apareceu do nada. 


Não é o coração que escolhe pessoas arbitráriamente. Tem o sentimento, tem o beijo, tem a pele, a química que tem gente que chama de destino. Mas também tem as horas e horas de conversa, contar o prato preferido, as férias na Bahia, relatar primeiro e o último amor. Têm os filmes iguais, as bandas idênticas, a ligação que você atende de madrugada, a mensagem que você manda mesmo estando na festa mais apoteótica do ano.  A maldita cutucada no Facebook, que ninguém sabe pra que serve, mas também pouco importa. 


E isso não tem prazo de validade, É digno para quem está junto há 5 minutos ou há 50 anos. Talvez seja esse o segredo, estar sempre pré-disposta a ir jantar sem calcinha para ter uma noite incrível com quem você sabe que também lava as suas meias e faz o seu café todas as manhãs. É escolher uma música para a pessoa ouvir quando você estiver longe, é tirar uma foto em um lugar que essa pessoa já esteve só pra mostrar que você também esteve lá. É ouvir ele contrar pela centéssima vez a mesma história da pescaria no Uruguai, sorrir e fingir que é novidade. Envolver é verbo, logo, tem atitude.


Então, não nos poupem das responsabilidades da escolha dizendo que o coração não escolhe. Ele escolhe, define, investe. É a gente lendo signos escritos em escritórios sem janelas e procurando sinais bobos no dia-a-dia que decidimos jogar o jogo, tentar, dar mais uma chance, reenviar aquela mensagem, chamar no MSN, tirar o time de campo ou ser amigos e um dia, quem sabe, ver tudo acontecer outra vez. Se vale a pena? Não sei. Meu carneiro continua escondido por aí e o meu whats app sempre online.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

TODO CARNAVAL TEM SEU FIM.

Quando eu era criança, meus pais me proibiam de assistir novelas. Durante anos eu sofri no mármore do bullying  por não saber o que a Babalu tinha dito para o Raí, se o filho da protagonista tinha sido roubado, trocado, clonado ou quem matou a Odete Roitman. No fim, anos depois, quando eu já podia ver quantas novelas eu quisesse, cheguei a conclusão que meus pais fizeram bem em conservar o meu jovem cérebro no vinagre e me incentivar a ter uma visão menos Manoel Carlos da vida. Analisando tudo isso, tomei uma decisão de conservar a sanidade da minha futura filha imaginária e não deixar que ela assista comédias românticas. Mal amada? Não. Mal comida? Não, não. Tudo isso, será por um bem maior, o de poupar o " pequeno projeto de mulher" de todas as expectativas assimiladas em anos de "viveram felizes para sempre", "não vivo sem você", "a gente se conhece de outras vidas", bla bla bla.

Toda essa cultura do amor nos transforma em loucas, psicóticas, fantasiosas e infelizes mulheres. Na adolescência, você que de cheerleader não tem absolutamente nada, assiste loucamente a filmes com a estrutura: menina não popular da escola conhece menino (extremamente gato) que fez uma aposta para conquistá-la e depois abandoná-la. Mas a menina não popular é extremamente legal e incrível e apaixonante, como todas as gurias rejeitadas de 15 anos são. No baile da escola, alguém dá um banho de loja na pobrezinha e ela, além de tudo, fica linda e beija o principe encantado. Então, acontece alguma desgraça genérica, ela descobre que o menino (extremamente gato) estava enganando ela. Mas como a vida é linda nas comédias românticas, ele aparece no meio do recreio cantando uma música tipo I'll be there for you, todos percebem o amor dos dois, beijo na boca, nada de mão na bunda, final de feliz. O problema é que você, guria de 15 anos que assistiu isso 38x na sessão da tarde, também está muito apaixonada pelo gatíssimo guri do colégio, só que ao contrário do cinema, ele não vai ficar contigo na festinha, ele vai preferir a gostosa, e a única chance de se escutar I'll be there vai ser chorando rios no quarto como as adolescente fazem.

Então, você começou a namorar, que coisa linda, que coisa mágica! O coração na boca, a ansiedade sentida no estômago. Quantos filhos a gente vai ter? Nossa casa vai ter dois ou três andares? Quer conhecer meus pais? Então, um dia, o carnaval chega ao fim, as fantasias foram abandonadas, e a única coisa que você consegue pensar é que esqueceram de te avisar que estava na hora de tirar a roupa de palhaça. Mas como a boa pessoa que viu 150 comédias românticas tem problemas em entender o significado de A-D-E-U-S, você vai mandar e-mails enormes, cartões em forma de coração, pirotecnias, vai achar que ficando mais bonita, mais magra, mais tudo, ele vai perceber a sua falta. Vão cair folhas cor de outono, vocês vão se encontrar e perceber que o tempo parou e vai rolar aquele beijo cinematográfico... NOT.


Por fim, você vai chegar a idade adulta. Aqui as ilusões já estão bem mais pra "Pontes de Madison" do que "Dez coisas que eu odeio em você". Você já passou umas dez vezes pelo "Brilho eterno de um mente sem lembranças". Até porque, todo relacionamento é diferente, mas o sentimento do término é sempre o mesmo, "me deixa esquecer". Você chegou no momento, como diz a minha tia, que ele até pode ter uma verruga que você vai achar charmoso, contanto que seja um cara legal e te faça rir. Mas daí, você entra no trem achando que vai vivar o "antes do amanhecer", vai comer torta achando que vai receber um "Beijo roubado", vai passar dias e dias esperando ser excessão pra descobrir que "é regra" e que deveria parar de criar expectativas com o que só existe em roteiros e tentar ser feliz com o que existe e é palpável.

De qualquer forma esse não é um post amargurado, é um post reflexivo. Assim como nem todo mundo mora em Ipanema na novela, nem todo amor é de filme. Minha filha fictícia não vai assistir comédias românticas, não para não saber que existe amores que deixam a gente louco. Mas para quem sabe, ao contrário da maior parte das mulheres, não fantasiar o que significa uma mensagem não respondida, um msn que não abre a janelinha, um telefone que não toca, alguém que nunca pode sair com você, um beijo que não foi dado, alguma coisa que não aconteceu, todas as coisas que não foram ditas e provavelmente não serão. Ela vai sonhar menos com o improvável e com o maldito príncipe encantado e conseguir ver a verdade, que por sermos umas bobas, fingimos não ver. Se vai funcionar? Duvido. Um dia ela vai entrar em um trem, conhecer alguém em uma noite para se passar a vida inteira e quando ver... matar um carneiro. Afinal eu acredito em finais felizes até para textos de blogs.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

ESPECIAL NAMORADOS - PARTIU, GRUTA?

Para celebrar o mês dos namorados, convidei uma amiga muito "pra frente", como diria a vó do Mioni, para fazer um post alternativo de casais. Essa amiga, solteira convicta até março deste ano, conheceu, sem querer, um cara legal e agora está vivendo aventuras mais divertidas do que as da sessão da tarde no estranho mundo dos não avulsos. Aproveitem a leitura.


Todo mundo deve ir num puteiro uma vez na vida. E sábado, dia 28 de maio, eu fui. Acompanhada do meu namorado e mais 2 casais de amigos. Programa super casalzinho, né?

Fomos ao Gruta Azul. Na entrada, como em qualquer lugar, pedem teu nome e completam com: "não precisa ser o nome verdadeiro". Dei um passo dentro do lugar e soltei um "olha! uma parede com água e bolhas! que amor!" - juro, me lembrou aquela parede de água do Hugo Beauty do Iguatemi. Tive que ouvir um "primeira vez num puteiro, né?". Ha, claro que sim.

Lá funciona assim: no sábado é noite de casais. A entrada masculina é R$ 110 reais, mas com 60 de consumação (não se iludam: isso dá 2 doses de uisque ou 5 long necks). A feminina é de graça e a moça ainda ganha um espumante cortesia. Como boa namorada, dividi a entrada.

Olha, não sei se o movimento é fraco no sábado, mas era até um pouco engraçado: tinham umas garotas fazendo uns mini shows (de biquini, dançando e rodopiando nos pau-de-puta) e outras em volta, nos bares, com roupas minusculas e fluorescentes, coringando os poucos solteiros. No telão, fotos das meninas do local, e... fotos do restaurante (tem uns outdoors na farrapos, já viram?)! Sim, imagina: tu lá admirando a guria rebolando e olha o telão com foto de um cordeiro ao molho de laranja e um convite: conheça nosso restaurante internacional. Partiu? Sabe que não.

Como todo o lugar, lá tem um fumódromo. Quando os caras vão pra lá, as garotas vão a caça! Chegam abraçando, conversando, (se fingindo) interessadas na vida do cara. Não esperava menos: viva a prospecção!

Lá não tem choro nem vela: antes de levar a guria pra suíte, o cara tem que pagar uns drinks pra ela. Senão, nada feito. Tô pra te dizer que é mais difícil (ou muito mais caro) pegar uma garota do Gruta do que algumas em algumas festas por aí, que se atiram nos caras, inclusive no namorado alheio. Ácida? Imagina.

Sentamos perto de um pau-de-puta, e eventualmente uma guria ia lá fazer uma performance. Meu namorado era o mais proximo, e tinha uma visão privilegiada. Me matei rindo quando notei que ele balançava a cabeça no mesmo ritmo que a guria rebolava! Hilário. Sem falar da cara de bobo, como se fosse uma criança com um brinquedo novo."Ai, mas tu não teve ciumes?" Por favor! Tu vai num lugar cheio de gurias com roupas minusculas e umas até semi-nuas, e não quer que o cara olhe? Aham, Cláudia, senta lá. Fica em casa fazendo jantinha se não aguenta.

Tu pensa que os caras vão ficar olhando todo o tempo todas as garotas, mas não. Como tá em todo canto, uma hora tu meio que acostuma. cansa. Tanto é que uma hora ficamos discutindo o (pouco) FIGURINO das garotas. Não, né? Tá, mas sério: aquelas botas da Xuxa brancas que algumas usavam não tinha como não reparar. Pena que não pode tirar fotos lá dentro... ou não.

Nesse dia, tinha uma promoção chamada Bumbum de Ouro: umas seis gurias iam pra cima do balcão do bar, eram apresentadas por uma espécie de host. Depois um número era sorteado - entregue junto com a comanda ao entrar lá. O sortudo escolhia uma das garota e só pagava a suite. Mas, para a (in)felicidade dos casais presentes, só valia para homens solteiros.

De hora em hora ou a cada 2h, não sei bem, havia um show. A gente assistu um da Bianca, que tava pseudo fantasiada de policial (é, a fantasia era um maiô, um chapéu e um cacetete de plástico). Dançando com uma música qualquer, ela foi tirando toda a roupa e fazendo a platéia participar: sentava no colo de uns, esfregava a barriga em outros, se jogava cerveja nas costas e oferecia pra um dos solteiros do grupo da mesa ao lado "tomar".

A música era mais ou menos - houve uns bons momentos, devo admitir. Mas na finaleira tava tocando LUAN SANTANA. Gente, quase morri de desgosto. E já na finaleira também, eu estava indo ao banheiro, e um cara chegou chegando! Quando eu disse que não trabalhava lá, ele ficou todo contrangido pedindo desculpas. Não, eu não estava semi nua com uma saia rosa choque, antes que perguntem.Eu me diverti bastante. E iria de novo, com certeza. E na próxima vez eu vou mais cedo, pra ver mais shows!

O Falamancia incetiva novos escritores e apoia as namoradas sem frescura e mimimi. Obrigada a nossa querida escritora convidada.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Amor de ontem, de hoje e de nunca mais.

Depois de alguns anos de vida namorante, descobri que, em grande parte das vezes, as coisas que você acha mais bonitinhas no começo de um namoro são justamente as que você mais vai odiar quando o fim estiver iminente. Eu namorei um cara que dava piscadinhas, a gente estava em um bar, cada um falando com um grupo de amigos, e ele dava aquela piscada marota como quem diz "How you doing?". Eu achava a coisa mais fofa do mundo. O tempo foi passando, a incompatibilidade aumentando, até que um dia eu me dei conta que eu odiava as piscadinhas que neste momento já eram distribuídas para coisas do tipo "passa a margarina" ou "o que vamos fazer no sábado?". A única motivação restante para cada encontro era imaginar poder furar os olhos dele com uma BIC a cada piscadela.

Minha amiga namorava um alemão. Ele tinha errinhos de português que ela achava a coisa mais querida: "amor, vamos jogar frigobar (tradução: frescobol) na praia?" ou "querida, o céu está tão baunilha (tradução: bonito) hoje. Se passaram alguns meses e eles terminaram. Perguntando o porque do abandono daquele belo exemplar loiro de 1,90m, ela responde: É impossível. Além da cerveja quente, ele achava que falava um português perfeito e não entendia que "belo bunda" não era elogio.

Meu amigo namorava uma guria que cantava bem, muito bem. Ele exibia a voz da garota para os amigos, pedia para ela cantar nas rodinhas de violão. Alguns anos depois, ele namorando outra pessoa, me confessa: bah, no final, eu odiava todas vezes que a guria cantava. Ela abria a boca e eu saia da sala... tinha vontade que o chão me engolisse.


Já as marias palhetas têm uma história em comum: o maldito violão. Você começa a namorar e ele toda hora toca uma música no violão, tão legal ter um namorado músico, imagina como vai ser ótimo nos churrascos com os seus amigos ou na praia. O que você não sabe naquele momento é está começando uma vida a três. Ele é tão "Artístico" que toca em todo lugar: no ônibus, na fila do banco, na farmácia, no banheiro, no aeroporto, quando você está falando sobre ele conseguir um trabalho, na aula que ele não vai, na frente dos seus pais, na noite romântica, no cinema, um verdadeiro inferno musical. Por fim, o namoro termina e ele prefere ficar com a viola que "não reclama e está sempre esperando por ele".

Então, a gente chega a conclusão que é bom estar atenta. Daqui a poucos meses o gatinho que não sabe usar o guardanapo ou o "chuchu" que só dorme se você fizer carinho até ele pegar no sono pode levá-la a desenvolver sociopatias sérias, assassinato em primeiro grau, afogamento ou, no pior dos casos, se apaixonar de vez.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

PERDI

Meu ex-namorado gostava de Opalas com cor de berinjela, tinha praticamente uma fixação por aquilo. Ele também não se importava de ouvir pagode e gostava de fígado com cebola. Eu odeio fígado, eu acho carros antigos bonitos, mas inviáveis e eu não suporto pagode. Mesmo assim, eu namorei três longos anos. Ontem eu estava lendo um texto da Tati Bernardes, publicitária como eu, solteira como eu, desbocada como eu. ADORO! Ela falava sobre as esposinhas: aquelas coisinhas de porcelana, sorridentes, certinhas e terrivelmente chatas que os homens, igualmente chatos, insistem que é o ideal para constituir uma família.


Porém, tem algo que me agride muito mais do que isso: as namoradas “perdi”, perdi a personalidade. Elas eram loucas, festeiras do apocalipse, passavam o rodão em todas as festas, transavam com quem queriam e instantaneamente quando a palavra “relacionamento sério” apareceu no facebook: viram santas, puras e virginais. Desmemoriadas dos infernos que olham pra ti com cara de desaprovação quando sabem que você já ficou com mais de uma pessoa na mesma turma, por exemplo. Isso como se não tivessem tido “histórias” com metade da cidade antes do “amorzinho”.


Tem aquelas que mudam de time:

- Mas Gabriela, você era Juventude, lembra?

-Ahhh, eu sei! Mas pra acompanhar o Caco achei que não tinha problema virar São Paulo.

Também tenho um carinho especial por aquelas que adquirem o gosto do namorado de forma equívocada:

- Desde que o Marcelo apareceu na minha vida, percebi como os filmes de fantasia são legais.

- Mesmo, que legal! Assistiu Senhor dos Anéis então?

- Ah, claro. Nunca imaginei que o anel podia ter um nome tipo “Frodo”

- Mais uma caipirinha, por favor.

Temos também as que acham que o namorado é o pai:

- Oi vamos tomar um chopp hoje, só a gente, as meninas?

- Vou ver com o Rafa, não sei o que ele pensou pra hoje.

- E ai, partiu?

- Não, não. Rafa acha melhor eu ir pra casa e a gente pedir uma pizza.

- (vomito)


Eu poderia fazer uma lista infinita das situações. Mas, não só as mulheres que sofrem com a sindrome do "perdi,". Eu que passei a metade da minha vida cercada por meninos sei bem:


O amedontrado:

- Bah, queria ir ver o jogo no estádio com vocês.

- Já traz a carteirinha e vamos direto!

- Ahh, não vou! A Paula acha perigoso.

O superprotetor:

- Vamos fazer um happy?

- Claro, vou só levar a Beth em casa e volto.

- Mas a Beth não sabe pegar ônibus?

- Ahh, coitada, né! Não curto.

O babaca:

- Por que meu nome é João no teu celular?

- A Julia não gosta que eu tenha amigas.

O sem gosto definido:

- Gabriel, o que aconteceu com as tuas camisetas?

- Ah, a Lucia prefere que eu use uma polo ou camisa.

- Mas tu odeia Polo e camisa.

- Ahhh, ela diz que me deixa mais bonito.

- mentir não é pecado?


Óbvio que namorando a gente adquire certos hábitos do próximo, isso é normal, é legal. A gente pode aprender a gostar do Senhor dos Anéis, a ler um autor diferente, a gostar de sushi. Mas essa perda de personalidade miojo: 3 minutos de união e acabou tudo, não faz sentido no meu cérebro single. Amor pra mim é compartilhar, não abrir mão. E até dá pra abrir mão de um monte de coisas, menos da gente. Porque sempre se corre o risco de quando o amor acabar, a loira do atendimento aparecer ou o cara mudar de time, você descobrir que além de tempo o que perdeu mesmo foi você.




domingo, 20 de fevereiro de 2011

Só as mães são felizes


Um dia a gente acorda e percebe que não é mais criança, também não é mais adolescente e acompanhado de uma musica clichê no fundo: descobre que virou adulto. O sentimento é estranho, não é a surpresa de ter ficado “mocinha”, não é o medo da primeira vez, é uma coisa do tipo: ninguém mais vai perguntar o que você vai ser quando crescer, você já cresceu. Acho que se a gente soubesse como é complexa essa vida da maioridade teria mais paciência, teria dado mais valor as férias que vinham DUAS vezes por ano, aos meses passados na praia, os feriadões prolongados (mesmo quando caiam em uma quarta-feira), a casa da vó.

De forma alguma este é um post tristonho, eu estou gostando de ser do time das mulheres e de poder sentar na mesa dos adultos, é que um tempo atrás isso parecia tão longe. Eram os mais velhos que compravam carros, apartamentos, casavam, tinham filhos ou iam para Europa. Pra gente, isso era um daqueles planos em longo prazo que sabíamos que um dia chegaria. Uma certeza como a de que o Titanic ia afundar já na fila do cinema, então não precisávamos pensar nisso.

Você se formou, não é mais estagiário, começou a ter que fazer escolhas profissionais de verdade, não pode mais tirar férias quando tem vontade. Alias as férias viraram um acontecimento fantástico, até entendo porque meu pai levava dias para começar a achar que estava tudo bem durante aqueles 15 dias no ano em que o relógio ficava abandonado em casa. O salário sempre poderia ser maior, mas você já começa a pensar em ter uma poupança, quem sabe dar a entrada em um apartamento? Será que eu quero mesmo continuar nessa cidade? Ter filhos com esse namorado? Será que eu devo congelar meus óvulos? Será que esse namorado vai fazer eu jogar o buquê? Será que se eu usar uma saia de caveirinhas vão me respeitar naquela reunião? Preciso de mais espaço para os meus sapatos? Serio que eu tenho que pagar imposto de renda?

Responsabilidades, acho que no fim a gente se acostuma com elas. Um ano novo está começando, um monte de coisa legal vai acontecer, já escrevi as metas de 2011 no meu moleskine novinho. Acho que a Natalie Portmann vai ganhar melhor atriz hoje, meus amigos conseguiram o financiamento da caixa para comprar um ap, uma das minhas amigas parou de tomar pílula. Estava com saudade de escrever por aqui, precisou que ele aparecesse para eu voltar a ativa: meu primeiro fio de cabelo branco.






terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Tradutor Estrelar

Todo ser humano passa por períodos de instabilidade, dúvida, raiva, busca por vingança, dor de corno, baixa auto-estima e falta de motivação. Deve ser normal, se não o Woody Allen não faria tantos filmes e os livros de auto-ajuda e espiritismo não venderiam mais do que o Senhor dos Anéis. Porém, se a sua inquietação quanto ao futuro está próxima de atingir níveis fatais, alguém vai te indicar uma espécie de “curandeiro” da alma: o astrólogo. Óbvio que na hora parece uma excelente ideia e que os seus problemas estarão resolvidos em poucas horas. Rá, humanos!
Liguei para o número indicado sob comentários “em chamas”: “esse cara é foda”, “infalível”, “acertou até quando meu tio iria morrer”, “vai mudar a tua vida”. Uma secretária eletrônica me atendeu, deixei meus dados para contato, data e hora de nascimento e esperei meu espaço na agenda do celebre tradutor de estrelas.
No dia marcado, em uma sala que cheirava a incenso e cigarro, tive a minha consulta: interpretação perfeita da minha vida familiar, em alguns momentos beirando o assustador já que o cara falava de coisas que aconteceram há milênios (lembra aquela vez que você pediu isso e aconteceu aquilo?), dicas profissionais de grande valia, incentivo para tomar decisões, uma avaliação mês a mês do próximo ano, a garantia que um grande, louco e irresistível amor vai aparecer na minha vida, mas só depois de setembro e pode ser estrangeiro. "Fique Atenta!" Entre outras coisas. Saí de lá feliz! Empolgada com o ano que estaria começando, com um CD inteiro de previsões para ir acompanhando mensalmente. Uma verdadeira terapia fast-food: apanha na cara pelos erros, recebe uma sardinha pelos acertos e ganha a promessa de um futuro muito melhor do que o “felizes para sempre”. Uma injeção de animo por R$250,00, pagos parceladamente com cheques da conta universitária do Banrisul.
Eu fui três anos seguidos, minhas amigas e amigos também, as mães das minhas amigas também, os namorados e namorados das minhas amigas também. Então, um dia, eu percebi! Notei que se uma previsão não acontecia no mês indicado e se confirmava seis meses depois, eu perdoava. Que se o aumento de salário não veio, era culpa do eclipse. Que se o telefone não tocava, era porque só podia ser o cara errado: “não conheci ele em setembro, burra. Óbvio que não valia a pena. Não ligarei também”. Minhas previsões eram um placebo pra eu ficar “tranqüila” porque o próximo mês ia ser muito melhor. Então, em agosto desse ano, eu não fui refazer o meu mapa astral. Me senti uma herege, a própria Maria Madalena antes de fazer strip na mesa da santa ceia. Mas eu sobrevivi: unhas foram comidas, R$250 reais viraram livros, roupas ou álcool e em dias de ansiedade brutal eu me dei uma coca-cola normal e cheia de açúcar de Jesus de presente.
De qualquer forma, não me arrependo. Foi legal. Agora, eu sei que sou uma sargitariana de 02/12/82 com ascendente em leão e que por isso eu sou braba, perco os limites facilmente, falo o que eu quero e misturando o fogo com fogo dos signos tenho uma personalidade difícil (não que até o cobrador do ônibus já não soubesse disso, mas agora o dado é acadêmico). Nesses tempos de final de ano tudo o que a gente quer é que baixe alguma coisa e diga “calma. Tudo vai dar certo. Tu vai pagar tuas contas, comprar um vídeo-game, fazer um mochilão e quem sabe atropele um carneiro pelo caminho ou não precise mais abrir o vidro de pepino”. Ninguém vai me dizer isso esse ano, que bom! Entre uma úlcera e outra, vou vendo o que os Norms (http://br.groups.yahoo.com/group/Euthimia/message/80) vão fiando pra mim. Mas por via das dúvidas, vou lendo o astrology zone, porque vai que né... deixo passar alguma coisa importante quando saturno entrar no quadrante de escorpião. Chega 2011!

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Carneiro na conserva

Como já comentado neste blog, estou em uma fase avulsa da vida e pra tristeza de muitos: achando ótimo. Porém, neste mundo cheio de amor e pessoas querendo juntar escovas de dente e meias sujas, o ritual do casamento faz parte da programação social de qualquer jovem rumo aos 30. Então, neste feriado de 12 de outubro, eu e minha queridíssima e gigantesca família nos mudamos para um hotel e partimos rumo a Disneylândia dos lenços de papel encharcados de lágrimas: o casamento do meu primo.

Primeiro ato: a vestimenta

Uma vez confirmado o casório, madrinhas, primas, tias e agregadas começam a trocar e-mails sobre a vestimenta ideal para a cerimônia. A festividade programada para o turno da tarde abalou as estruturas do meu armário que não é nada diurno. Como ninguém compreendeu minha incrível vontade de usar um chapéu anos 40 ou um casquete anos 20 optei por um visual completamente equivocado: vestido preto com rendinhas e sapato laranja flúor. Ao me deparar com os demais convidados me sentia uma vampira (modelo clássico vampiresco, nada brilhante e virginal a lá Crepúsculo) saída de um sarcófago em meio a uma horda de hippies e fadas com vestidos florais. Fora que em tempos de Restart qualquer coisa colorida atribui uma nova característica a personalidade do indivíduo: “Mari, não sabia que tu era EMO”. Excelente!

Segundo ato: palavras de sabedoria.

Casal no altar, o pastor começa a falar. Como na religião dos noivos é um hábito “se conservar” para o grande dia, o querido pastor falou sobre o contato físico (os noivos devem ter pensado algo tipo: FINALMENTE!), sobre povoar a terra com pequeninos (os noivos devem ter pensado algo tipo: CALMA) e sobre mulheres precisarem de closets (os noivos devem ter pensado: WTF?). Pronto! Chuva de papel picado, arroz no olho, casamenteiras em chamas e um pepino feliz da vida por sair da conserva.


Terceiro ato: a festa

Finalmente o casamento chegou ao seu ponto alto: muita comida boa, brindes emocionados, banho de champanhe e toda aquela alegria. O Buffet de café colonial foi fantástico e garantiu que antes de sair da festa o zíper do meu vestido começasse a dar sinais de “estouro” próximo. Obviamente comi feito um hooligan em final de campeonato e fiquei profundamente feliz até o próximo ato.

Quarto ato: o buquê.

Assim que a noiva fez menção de jogar o buquê, uma legião de mulheres surgiu da terra e correu rumo ao sonho do altar. Eu, solteira feliz, continuava tomando o meu chopp e conversando sobre os shows do ano. Então, a família libanesa com seu poder de persuasão superliberal me jogou para o montante de mulheres que necessitavam de mandinga para desencalhe. A florzinha girou no ar, passou por mãos desesperadas, desviou do mosh da minha prima de Brasília e me acertou como a bomba nuclear de Hiroshima. Avassalador! Lembro de olhar para a minha família em chamas com acontecimento e ouvir três comentários: 1 – “No último casamento eu peguei o buquê e olha onde eu estou agora (a noiva)”. 2 – “Olha, eu já vi solteirona de 48 anos pegar o buquê e casar logo depois (a prima). 3 – “Agora vai!” (desconhecida que certamente não lê o meu blog).

Quinto ato: as considerações finais.

Os noivos partiram para seu merecido desconservamento, a mulherada aproveitou as roupas e make-ups e foi pra um pub irlandês (agora a minha roupa estava adequada). Milhões de fotos foram batidas e um sentimento fantástico tomou conta de todos: o de família. Como é bom estar com a nossa e ver que ainda tem gente querendo montar a sua. Fiquei sentimental, acho que vou conservar o buquê e usar de tempero no meu carneiro. Afinal, segundo as especialistas, estou chegando perto.






quinta-feira, 7 de outubro de 2010

I’ll Sleep When I’m Dead

Há muito tempo atrás existia uma menina, ela tinha 12 anos e sua banda favorita se chamava BON JOVI. Naquele ano de 1995, o loiro vocalista e sua trupe do hard fizeram uma série de shows no Brasil e sua família não permitiu que ela viajasse sozinha para Curitiba assistir ao espetáculo. Então, a pobre e jovem menina assistiu a transmissão na Band, recortou todas as caprichos e revistas de música do mundo, viu todos os VHSs do planeta, chorou litros e prometeu que um dia veria um show da banda, o mais perto do palco possível.
Quinze anos do depois, a menina que foi sócia do fã clube, acumulou pastas e pastas de recortes, comprou CDs quando ninguém mais comprava CDs, teve a sua chance: BON JOVI anunciou um show no Brasil. Histeria, caos, desespero, noites viradas em busca de um ingresso, pronto! Pista Premium Gold Diamond Senior comprada e R$720,00 reais a menos na conta. Três meses depois, 4h30 da manhã a menina ia pro aeroporto em chamas. Esse é o relato da sua odisséia.

5h – 9h50
Sai de casa com uma neblina que não se via em Porto Alegre desde o inverno. Fiz o check-in com as simpáticas meninas de verde da webjet e me dirigi a fila quilométrica do raio-X. Com quase 3h de atraso, parti pra SP em um banco não reclinável, mas feliz.

11h – 18h
Após um motim no transfer, conseguimos convencer as pessoas que queriam fazer turismo a pegar um taxi. Comemos um sanduíche no centro, escovamos os dentes, calibramos o Rexona e fomos correndo pra fila, onde nossa amiga madrugadora nos esperava para a troca de postos e toda a muamba bonjovística nos aguardava de braços abertos ao consumismo fanático.

18h – 21h15
Existe uma coisa que eu ainda não consigo admitir, porque as pessoas que vão de pista megapremium sempre se fodem mais do que as outras? A entrada é mais tumultuada, o banheiro é mais longe, o cara da água cobra mais caro, o aperto é muito maior. Em 3h e pouco eu quase trinquei uma costela, paguei R$10 por dois copinhos de água, briguei com a guria que queria roubar o meu lugar pertinho da grade, brigaram comigo porque estava tentando chegar ainda mais perto da grade e, com o passar das horas, não conseguia mais me mexer. E isso é literal, não conseguia mexer os braços, fiquei igual a um tiranossauro rex até a abertura gloriosa começar.



21h15 – 0h
Começou o show. Richie e sua turma entraram no palco com “blood on blood”, uma música que eu escutei até arrebentar a fita k7 (sim, eu sou do tempo da fita k7). Chorei. A sensação de ver que aquele sonho estava se realizando, que finalmente eu era parte daquele coral que sempre me tirava o fôlego no DVD fez eu me emocionar profundamente. Depois disso foi um festival de sucessos, sorrisos, palmas, gente desmaiando, cotoveladas e tudo e mais um pouco do que eu esperava do Bon Jovi. O cara fala com o publico (sim, eu sei que é ensaiado, mas gostei igual), parecia visivelmente feliz com o galera que cantava TODAS as músicas ensurdecedoramente, fazia caras e bocas no melhor estilo “discípulo de Elvis” e me arrancou muitas outras lágrimas com canções que lembravam a minha adolescência de um jeito quase bizarro. FOI LINDO. Por fim, uma multidão cantando “Never Say Goodbay” arrancou um bis com “Bed Of Roses”, mais lágrimas, acabou a festa.




0h – 10h
Dormi duas horas antes de ir pro aeroporto e estou escrevendo esse posto completamente chapada de emoção, depois de comer uma coxinha. Acho que entrei naquele estado lisérgico e quase depressivo que atinge a gente depois de realizar uma coisa muito esperada, sem exageros. É um sentimento maravilhoso de missão cumprida e triste da dúvida se aquilo vai acontecer mais uma vez. Mas não importa, levo deste dia lembranças maravilhosas, um trauma a menos pra discutir na terapia, novos amigos e uma certeza: que “In the church of Rock´n´roll” (como diz o John) eu sou uma dessas fiéis que fariam o Caminho de Compostela 1000x por um bis e que erguem as mãos pro céu no refrão gritando para o seu pastor: I BE HERE FOR YOU.



Confira o Set:

"Blood On Blood"
"We Weren’t Born To Follow"
"You Give Love a Bad Name"
"Born To Be My Baby"
"Lost Highway"
"Superman Tonight"
"In These Arms"
"Captain Crash"
"When We Were Beautiful"
"Runaway"
"We Got It Going On"
"It’s My Life"
"Bad Medicine ~ Pretty Woman ~ Shout"
"Lay Your Hands On Me"
"Always"
"Blaze Of Glory"
"I’ll Be There For You"
"Have a Nice Day"
"I’ll Sleep When I’m Dead"
"Working For The Working Man"
"Who Says You Can’t Go Home?"
"Keep The Faith"
"These Days"
"Wanted Dead Or Alive"
"Someday I’ll Be Saturday Night"
"Livin’ On a Prayer"
"Bed Of Roses"



quarta-feira, 29 de setembro de 2010

DAY 2 - Sempre em frente, vaqueiro

Hoje, farei um post curto. Até para não ficar muito chato para quem lê e não quebrar a corrente.
Café da manhã e lanches: sanduíche sem pão. Funciona muito! Mata a fome, não termina com a dieta e não existe nada mais fácil de fazer. Enrola e põe no potinho.


Almoço: bife sem arroz, sem batata, sem feijão, sem todas as coisas boas, mas com pudim light de sobremesa e três mangas pra dar um colorido no prato. O Prato apelidado pelos meus amigos vegetarianos de chacina.

Jantar: novamente bife. Dessa vez com pepino, saladinha e milho. O milho ficou por conta das 25g de carboidratos diários.


Saldo do dia: sucesso! Nem senti muita fome.

Na balança: nenhuma alteração pra menos ou pra mais.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

DAY 1 – O Viking dentro de mim

Já cantavam os Gregorianos: “o primeiroooo dia é o maissss dificillllll” (vozes de coral de cantos gregorianos). Acordei decidida a mandar cada grama de banha pra lua, respirei fundo e fui trabalhar. Como eu saí atrasada (normal), pulei o café da manhã e na hora do almoço estava querendo comer um dinossauro frito. Existem poucas coisas que eu adore mais do que uma boa, saborosa e gordinha à La minuta (arroz, feijão, batata frita, bife e ovo). Logo, entrei no restaurante e surpresa! Provação dos deuses no prato do dia. Resisti brutalmente as fritas de Jesus e comi bife com alface e uma gelatina light. Sucesso! Saí do Buffet chorando o óleo não ingerido, mas orgulhosa.

Nem preciso dizer que três horas da tarde, o viking que existe dentro de mim resolveu dar sinal vida. Esse horário ainda era muito cedo pra comer o meu lanchinho abençoado, mas o viking queria uma torrada com coca-cola. Maldito! Lembrei dos Saxões e encarei o nórdico de uma maneira bárbara: chá.
O Viking lembra o Magaiver, mesmo afogado com chá, encontrou uma forma de seguir no seriado. Então, pontualmente e desesperadamente às 16h, eu abri o meu lanche. Bolinho de ricota sem massa (quem quiser a receita, estou às ordens – é tri bom). A aparência definitivamente não é das melhores, parece a versão pobre de um empadão. Mas naquele momento era o próprio manjar dos deuses. Temporariamente a guerra estava vencida.

Jantar, para mim a fase mais complexa do dia. Não bebi nada, não fiz happy hour, dormi no ônibus, perdi a minha parada e quando finalmente eu cheguei em casa: não podia partir para as deliciosas “confort foods”. Uma pena. Peguei três salsichas (não é o melhor exemplo de carne, mas OK) refoguei com uma cebola, joguei queijo ralado e pronto! Um jantar digno de chefe. Chefe das proteínas.

Saldo do dia: POSITIVO. A batata fria celestial foi negada, o arroz descartado e praticamente nenhum amido foi ingerido.

Diferença de peso entre um dia e outro: 500g



segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Projeto MUSA do verão - DIA ZERO

Amigos e amigas, seguidoras e seguidores deste humilde blog, Esta semana teremos uma proposta especial, praticamente uma utilidade pública aos gordinhos de plantão: vamos ajudar todas as pessoas que assim como eu se afundaram em massa, pipoca, vinho, negrinho e chocolate neste inverno e testaremos a “dieta das quase proteínas”. Tudo isso, recebeu o nome de grande-post-pró-biquíni-sem-vergonha-canga-no-lixo. Todos estão convidados a participar, postar seus sucessos e insucessos e juntos darmos um trato na borracharia. Semana que vem, o blog volta ao normal. Grandes eventos nos esperam como o casamento do primo que também é surfista de cristo, o show do Bon Jovi, uma postagem internacional, amigo secreto da firma, maquiagem no salão e outros. Conto com vocês e com a paciência de todos! Não sumam. Partiu virar musa e muso do verão!

Antes de começarmos, respostas a algumas perguntas recebidas por e-mail:

Quero participar, o que eu faço? Acompanhe o blog. Diariamente estaremos contando as agruras da dieta e a dura tarefa de dizer: “eu detesto arroz, sai daqui massa do demônio, te odeio maionese do inferno”. Além disso, você pode postar e contar pra gente a sua peregrinação rumo à Meca do tamanho P.
Como funciona a dieta? Basicamente você pode comer carne e salada “livremente”, lembrando que o “livremente” não significa alimentar-se feito um mamute descontrolado. Também pode incluir ovos, um ou outro iogurte e aqueles “dietéticos” que vão te salvar de comer um pote de sorvete. Por isso, que ela se chama “dieta das quase proteínas”. Porque todo mundo sabe que no mundo dos enlatados e empregos de turno integral é quase impossível consumir NENHUM carboidrato sem pedir férias ou mudar-se para a lua.
O que não pode? Pão, massa, batata, arroz, farinha, chocolate, álcool, biscoitinhos, amidos em geral e praticamente tudo aquilo que a gente gosta de comer.
Quanto tempo dura? SETE longos dias (podendo ser estendido devido a necessidades extremas).
Posso beber? Não pode. Mas se você tomar um traguinho, também não vai te matar. Só escolha um dia para o abuso e esqueça os outros seis. DICA: champanhe e vinho são os “alcoólicos” mais lights. É puro glamour.
Quantos quilos perde? Alguns sites falam em: 5,3,7 e 2. Vamos testa-la e gritar bingo no final.
Isso é saudável? Não. Mas o final do ano tá chegando, os biquínis começaram a surgir nas lojas, todos os eventos que pedem vestidos apareceram no calendário e os shorts vão passar a ser usados sem a meia “segura tudo” calça.

Não tenho força de vontade, e agora? Pensa no Caleb do KOL. Ele certamente não pediu um bujão de gás usando capinha floriada em casamento. FOCO!
Partiu! Amanhã conto o dia de hoje que já começou cheio de fome e a negação de uma bela e fabulosa porção de fritas.

PRIMEIRO PASSO: suba na balança, anote o número da desgraça, abra uma revista e escolha foto do corpo que você deseja e faça que nem camarão: corte a cabeça. Então, cole a sua foto e pronto! ESTÍMULO feito com tesoura e cola.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Criadora de cabritos

Esses dias me perguntaram como eu virei publicitária. Um tipo de pergunta interessante se você pensar que ser publicitário não é como ser médico, bombeiro (apesar de apagar muito incêndio), astronauta ou bailarina e a maioria das pessoas não sonham em ser o cara que faz jingles, enche a programação da TV de comerciais e obriga todo mundo usar o controle remoto.

Particularmente, eu acho que descobri a publicidade cedo, com uns cinco ou seis anos em um ano-novo. Eu e meus primos, como bons descendentes de libaneses, queríamos ganhar uma grana para tomar muito mais picolés e concorrer a muitos palitos premiados. Então, eu sugeri uma “ação”: vamos fazer uns desenhos e copiar uns “dizeres” de umas revistas, daí a gente vende pros adultos. Sucesso! Principalmente porque a revista utilizada foi uma revista pornô do meu tio adolescente e tínhamos frases para todos os gostos: “estou com tesão”, “pega mais forte”, “me lambe”.

O tempo passou e a “causa” me tocou: líder de turma, Grêmio Estudantil e todas estas atividades que fazem a gente aprender que o poder da persuasão e do grito funcionam e que o socialismo, não. Nessa época eu também já sabia que matemática, física e química eram praticamente os anjos do apocalipse na minha educação, prontos para espalhar o caos. Veio o vestibular e eu precisava escolher alguma coisa: corta todas as exatas, suspende todas as biológicas, só faz história se quiser morrer de fome. Jornalismo ou Publicidade? A genética turca se apresentou mais uma vez e inspirada pelos persas: publicidade e propaganda.

Com o tempo, a gente descobre que a propaganda lembra os rituais de iniciação das tribos. Quando você chega passa pela fase do deslumbramento: o Brasil é o país mais criativo do universo. Depois vem a fase da iniciação: procura um estágio, não consegue estágio. Procura um estágio, vai trabalhar com mamografia (obrigada, CIEE). Procura estágio, responde perguntas sobre jesus em um colégio de freiras (obrigada, CIEE). Procura um estágio, vai ser assistente de gráfica e cheirar cola spray. Procura um estágio, vai ser atendente de telemarketing (obrigada, CIEE). Então, finalmente, chega a fase da consagração: você decide entrar em uma agência. Como eu sempre quis trabalhar com criação, não precisei passar pela fase do “tem vaga pra quê?”. O que é um momento muito triste da vida publicitária. Eu lembro até hoje do meu primeiro dia na Escala: Uma criação gigantesca e eu pensando “ai meu deus, vão descobrir que eu sou uma fraude”.

Foram três anos de estágio, a descoberta que todo mundo na criação é igual: poços de cultura inútil com pitadas de filmes bizarros e um cara que fizeram eu descobrir que desde quando eu vendia cartões com belas frases de amor, eu já queria ser redatora. Esse “mestre” fez eu colocar o jaleco e sentar na cadeira pra ver como era ser dentista (como ele mesmo conta já que era o único publicitário em uma família de dentistas e o poder de persuasão paternal tentou ser mais forte). Foi em uma agência que eu senti o gostinho de ver uma campanha ser criada, um outdoor ir pra rua, curti festas de final de ano em que a polícia coloca limite, vi a ideia surgindo, o prazo comendo, o dia amanhecendo, a dor de ver tudo reprovado e a vitória de criar tudo do zero outra vez. Além da sensação maravilhosa de subir no palco para ganhar um prêmio. Porque ninguém admite, mas é ótimo ganhar prêmios.

Hoje, pensando em porque eu virei publicitária, acho que a melhor resposta é porque eu, assim como muitos amigos que conheci nas agências, na faculdade e pela vida, adoro caçar ideias, mesmo que não tenha verba pro arco e para a flecha. Eu gosto de botar a mão na massa, ver a coisa surgindo. Brincar de Deus com “compre hoje”. Decidir o destino do “Só amanhã”. E o mais importante: continuo sendo publicitária porque não me importo que o glamour seja inversamente proporcional ao suor, porque sei o que significa "fazer um cabrito", não me importo que minha vó não entenda o que eu faço e porque como todos os indios: reclamo, reclamo e reclamo das condições de vida, mas não fico longe da oca por nada.

domingo, 5 de setembro de 2010

A NOITE NUNCA TEM FIM. QUE BOM QUE A GENTE É ASSIM.

Eu sempre fui uma pessoa “pilhada”, dessas que gostam e vão em qualquer coisa: eu já entrei no rio Guaíba até a cintura, já sequei o cabelo no “secador de mãos” do shopping, já fui em terreiro de macumba, dormi sozinha no motel e já tomei vinho da “tia ranhenta”. Graças a esse espírito que não liga muito para o ridículo, topei organizar um pub crawl em Porto Alegre durante o encontro regional do couchsurfing (sim, eu ofereço meu sofá para desconhecidos e durmo na casa de estranhos – minha mãe A-D-O-R-A).

Foram cinco bares, seis drinks, um apito, 60 pessoas (tenho síndrome de aniversario fracassado, então a quantidade é muito importante) e uma das melhores coisas que eu já fiz na vida. Já diziam os aborígenes australianos que o álcool é a essência da amizade; e eu sou uma humilde adepta deste ensinamento transcendental. Então, nos encontramos no primeiro bar: HOSTEL CASA AZUL. Para abrir os trabalhos: CERVEJA URUGUAIA, porque ao contrario dos gaúchos, o resto do Brasil não acha que o Uruguai fica no quintal de casa. Distribuição de engovs e todo mundo comportadinho e sóbrio.


Eu nunca imaginei que ser sindicalista fosse uma coisa difícil, mas tenho que dizer que nosso presidente passou trabalho. Ontem eu me senti a reencarnação do LULA (com todos os dedos) subindo em cadeiras, apitando e gritando com todo mundo para organizar o motim de pessoas de bar em bar. “vira à direita” – “vira à esquerda” – “sai do meio da rua” – “não, não pode levar o orelhão pra casa” e assim seguimos para o segundo bar: APOLINÁRIO. Sessenta viventes sentados, loucos pela bagunça, esperando o drink: CAIPIRINHA DE CACHAÇA ARTESANAL E MEL, simplesmente fantástico. Dados os 40 minutos, foto tirada na frente do estabelecimento, encarnei a aeromoça dando instruções de vôo e fomos para o próximo: MUFFULETTA.


Muffuletta é o nome de um sanduíche típico de New Orlens; e foi exatamente assim que ficamos: como um sanduíche dentro do bar que é pequeno. Uns por cima dos outros, tentando adivinhar o que é granadine, degustando o drink escarlate: MUFFULETTA HURRICANE e começando a se considerar muito.


De lá partimos para a TOCA DA CORUJA, degustar o CHOPP DE CORUJA. Uma cerveja feita na cidade e muito popular entre os “Porto Alegre people”. Como não poderia faltar, escorreguei na escada molhada e ganhei de brinde um roxo na perna. O momento foi tão memorável que já tenho até certo carinho pelo circulo verde e azul perto do meu joelho.




A horda de vikings saiu cantando pelas ruas da cidade baixa para o PREFÁCIO, que apesar do nome, foi nosso quarto bar e entornou, porque essa hora ninguém degustava mais nada, uma CAIPIRINHA DE BERGAMOTA. Neste bar, descobrimos que a tal fruta tem mais identidades que espião russo de cinema trash: bergamota, mexerica, mimosa, tangerina e outros.




Último bar: ENTREATO. Uma Mariana sem voz distribuía a CAIPIRINHA AFRODISÍACA, traduzida carinhosamente para os gringos como “sexy caipirinha” e lá rolou o drink surpresa: TEQUILA. Que é para apagar de vez a memória e dar coragem de cantar amigo punk no palco do lugar da festa: o DIVINA COMÉDIA.


Além de tudo isso, tínhamos chilenas, uruguaios, argentinos, americanos, indianos e brasileiros das mais diferentes origens. Tivemos música cantada e aplaudida, discurso, composições do oasis berradas no estilo hooligan e uma vizinha me olhando sair do táxi de manhã e pensando “ahh essa juventude perdida”. Enfim, foi uma louca e etílica noite que de tão memorável foi totalmente esquecida entre drinks misturados, cantorias, beijos e declarações de amor eterno. Final, já diziam os orientais: bêbado sempre se ama. SEMPRE. E é por isso que distribuímos papéis ensinando as pessoas a dizer “eu te amo” em muitas línguas. Porque nada é melhor do que fazer amigos e esquecer juntos os momentos que a gente vai lembrar por toda a vida.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

64 o ano que não acabou.

Eu sempre gostei de quebra-cabeças. Não era um brinquedo muito coletivo, excitante ou que os amigos do colégio corriam pra tua casa para brincar, mas eu curtia. Depois de uns anos, descobri que tem coisas na vida que são desenvolvidas para se encaixarem, mas necessariamente não seguem essa ordem. Os dentes e a superpopulação EMO/BI são os maiores entusiastas desta máxima.
Cai um, cai outro, nasce um terceiro por cima, eles não querem saber de divisão de espaços. Acreditam que estão em uma comunidade hippie, vivendo uns por cima dos outros, aquela liberdade revolucionária. Não tem como gostar de revolução quando o assunto são os dentes da gente. Logo, pede pra mãe marcar o dentista que vai te acompanhar por longos e metálicos anos da sua vida e que se inicie a dinastia do aço.
Eu nasci na década de 80, então esqueçam aquela coisa de aparelho transparente ou coladinho discretamente atrás do dente, o negócio era medieval e adquirir um era muito simples: primeiro vinham a séries de radiografias panorâmicas, uma coisa superdivertida que deve ter inspirado o escritor do filme “O homem da máscara de ferro”. Depois os moldes: gesso dentro da boca literalmente e aquela escultura celestial concebida pra ir pro MOMA, já que está tudo tão desalinhado que só pode ser arte moderna.
Enfim, chegou o dia dos expansores: minúsculas borrachinhas verdes entre os dentes com o poder de destruição maiores do que os da kriptonita. Por fim, chegou o dia de colar o negócio, FINALMENTE os sem aparelho devem estar pensando, mas quem usou sabe: uma vez colados os “braquites”, prepare-se. Eles só sairão de lá com ameaças fortes e muita persuasão odontológica.
Então, começam os melhores anos da sua existência: uma vez por mês tem dentista, uma consulta cheia de apertos e nenhum prazer (vale lembrar que é aí que maioria dos adolescentes descobre o poder do Miojo molengo). Você nunca mais sentirá fome outra vez, porque mesmo escovando freneticamente seus dentinhos, uma vez ou outra, aparece aquele restinho de almoço ou jantar, desagradável. Beijos cheios de paixão? Cuidado porque o brinquedinho de ferro adora fingir que é uma serra elétrica. Gostou? Ainda tem o reflexo nas fotos. A luz negra que brilha em TODOS os dentes da festa, menos nos que tem cola, os “braquites” engolidos e todos os utensílios de limpeza que você vai adquirir.
Então, um belo dia, você percebe que se passaram uns cinco anos e meio e que o prazo de validade daquela coisa já deu o que tinha que dar. O dentista continua achando a tua mordida torta, mas você explica que vai fazer um intercâmbio pro Ushuaia e que lá é complicado a manutenção. Lembra que ninguém, fora ele, sabe que a mordida tá torta e que não existe problema algum em ter alguns segredos nesta vida e após horas de luta, você vence. Ele sabe que está perdendo rios de dinheiro (aparelho já foi uma coisa cara, sério!), mas sabe que a batalha está perdida. Acontece a extração: F-A-N-T-Á-S-T-I-C-O! Tenho dentes outras vez e ficaram LINDOS!
Então, uma nova fase se inicia, cheia de sorrisos exagerados, mordidas equivocadas, clareamento insano e constante e línguas que não cansam de passar em cima de cada dente e lembrar que eles estão livres. Nessa história 64 é só um número. O número de meses que os meus preciosos dentinhos sofreram a tortura e sobreviveram pra contar a história. Valeu a pena.


O Dia em que eu e a Mel tiramos nossos aparelhos :)

O Dia em que a Mel decidiu tirar o dela :)

*foca meramente ilustrativa.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

O inferno é laranja

Quando se mora longe, se olha demais para o marido da próxima e se bebe muito, Deus em pessoa seleciona o castigo. Ele é laranja, imprudente e sem nenhum glamour: costuma ser chamado de taxi from hell, o castigo dos atrasados. Se tá chovendo, eles não param. Se você faz sinal para a lotação, param na frente te impedindo de pegar o transporte econômico. Se você ultrapassa, te perseguem. Se estiver atrasado, andam lentamente. Se não tem dinheiro, escolhem o caminho mais longo.

Sendo impossível não utilizá-los, tudo o que se espera é que o competente motorista consiga chegar ao endereço solicitado, mas nem isso. É o festival das dúvidas. O show do milhão da falta de localização. Tudo isso, porque o cara tem um GPS e provavelmente acha que é decorativo porque usar o equipamento, nem pensar, gasta. Como a maioria é homem, não podem pedir informação e assim, fica o taxímetro correndo enquanto o condutor maravilha reclama que o passageiro não sabe o caminho. Não que se soubesse adiantaria alguma coisa, porque como bom taxista, ele não iria aceitar o caminho e inventaria um trajeto alternativo e supervantajoso. Pra ele, óbvio.

Porém, dentre tantos destaques profissionais, faço deste blog um meio de reconhecimento. Uma manifestação humilde frente ao mérito destes gênios do trânsito e ases do asfalto.
Menção Honrosa: taxista de confiança a gente sempre chama mais de uma vez. Com a “intimidade” crescendo, o velhinho vai buscar a passageira em uma festa na zona sul. Então, a vê dando um beijo de tchau no “pegadinha” da vez. O cara é da família, já levou a guria três vezes pra casa, por isso reclama do cheio de cerveja, diz que beijar na rua é feio pra uma moça e que não gostou da cara do bofe. Obrigado vô, da próxima vez eu pergunto para o senhor antes de ficar com alguém se o senhor aprova.

Anuário: sexta-feira, três amigas pegam um taxi para irem jantar na cidade baixa. O motorista irritado porque o trio é muito falante, aumenta o volume do rádio para que um taxista no Himalaia consiga escutar as informações das condições do trânsito. Não contente em fazer o caminho até o jantar parecer o desembarque na Normandia, na hora de pagar, fica indignado porque as passageiras só têm notas de vinte e ele ODEIA notas de vinte. Mico pra gente que teve que descer no restaurante e pedir pro caixa trocar as notas se não ele não iria embora.

Bronze: a dupla de criativas sai do trabalho e pega um taxi de uma consagrada empresa da capital gaúcha. O condutor, muito simpático, gasta os próximos 20 minutos falando que adora quando as mulheres se assumem e se beijam dentro do taxi dele. Quando o taxista tarado finalmente entende que as gurias não são lésbicas, oferece seus serviços de macumbeiro. Tiro e queda pra quem tá encalhada. Pra completar, detalhes íntimos da vida conjugal dele e da “gatinha” de 22 anos que ele pega frequentemente e gasta mais de R$6.000 pra manter, mas que é um investimento. Né?

Prata: Filho da amiga com dentista marcado, atraso, pega um taxi para facilitar. O motorista pensa que é descendente de uma linhagem de pilotos fantásticos. Corre, passa no sinal vermelho, buzina pras velhinhas na rua. Diz que vai matar o cara do fuca e finalmente é “fechado” por um outro carro. Toda a calma e o bom senso que se espera do motorista é superestimado: ele para o carro, desce e sai correndo gritando: se eu tivesse um trator passava por cima seu filho da puta, volta aqui pra eu poder te dar um tiro na cara, volta se tem coragem. E o carro com um adesivo “Bernardo a bordo” foge correndo pra desviar de tanta educação no trânsito.

Ouro: quatro amigos saem do Beco, uma levemente mais alcoolizada. O grupo entra no carro anda menos de uma quadra e escuta: essa guria não vai vomitar dentro do meu carro. A passageira que estava levemente bêbada diz: não, pode ficar tranqüilo. Mas se não quiser nos levar a gente troca de taxi. O que ele faz? Para, óbvio. Desce do carro, vai até a porta em que a guria está sentada, abre e dá um soco na cara dela. Sério, isso não é um fato meramente ilustrativo, aconteceu a menos de um ano. Os amigos, chocados, tentam contornar a situação enquanto a boca da passageira sangra. Os outros taxistas do ponto vem ajudar. Ajudar ele e bater nos outros passageiros. Afinal, o motorista tinha toda a razão.

Ahhh, todo o bom senso no trânsito. A-D-O-R-O. É por essas e outras que o projeto: um carro para chamar de meu entrou em ação. O dia que eu conseguir passar pela prova Jedi e desenvolver o feeling da troca de marchas, vou comprar um trator e passar por cima deles. Aprendi direitinho.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Tratamento de Choque

Quando eu tinha uns seis anos, meus pais que eram muito preocupados com a facilidade dos cabelos curtos e nada preocupados com a vida social da filha em fase de alfabetização, me levaram fazer um corte supermoderno para uma guriazinha: Joãozinho. Catástrofe! Enquanto todas as meninas do mundo iam pro colégio de tranças, rabinhos e chiquinhas coloridas, eu ia parecendo a Sinead O´Connor dos pampas. Para minha sorte, enquanto eles falavam em personalidade e eu pensava em como eu queria que meu cabelo fosse até a bunda ou meu apelido fosse Rapunzel, ele cresceu de novo.

Minha família (leia-se principalmente as avós) tem uma teoria bizarra de que cabelo no olho deixa a pessoa cega, teoria que, sejamos sinceros, os EMOS já fizeram o favor de derrubar. Mas como eu fui criança em um tempo em que não existia pet shop e que se esperava a música tocar no rádio para poder gravar na fita, fui vítima das tesouras insanas mais uma vez.



Férias na praia, o mulherio resolveu “dar um jeito” naquele cabelo que ia acabar com a minha vista. Fracasso! As mulheres dos anos 80 ainda não sabiam que o suporte era a invenção do demo e que nada é mais difícil de cortar do que uma franja seca. Conclusão: três meses no litoral parecendo o índio Juruna com a franja quase inexistente.


Nessas alturas, praticamente nada pior podia acontecer nos meus cabelos, que definitivamente não pareciam os da Malu Mader em Top Model, mas aconteceu. A cabeleireira da família sugeriu um corte que “todas as meninas estavam usando”. Pronto, lá saiu a Mariana parecendo o Chororó na primeira vez e um penico na segunda, logo quando inventaram o corte chanel. Em meio a tantos “acertos” em termos de estilo, coloquei um ponto final na história e deixei o cabelo crescer, crescer, crescer. Não dá pra dizer que aquela coisa sem corte era bonita, mas eu era feliz até sentir uma coceirinha estranha. Sim, aquilo estava acontecendo, era o festival do piolho na 6ª série B. Passa Escabim, Kell, pente fino, vinagre, corta de novo, mais Escabim. Ufa! Nenhuma criança aprende a lavar os cabelos direito até conhecer o pânico de ter piolhos outra vez; e isso é um ensinamento que se leva durante a vida.

Então, passado o trauma da infestação, ele cresceu, cresceu, cresceu de novo. E daí foi “a” festa: pinta de azul porque o Grêmio tá na final da Libertadores, pinta de papel crepom que sai no banho, pinta da vermelho sangue porque eu quero ser punk, compra chapinha porque agora ter cabelo liso é uma barbada, encontra uma cabeleireira chamada Norma que começa a picotar o cabelo até todos os traumas virem à tona e você chorar até ver que ficou ótimo.

Então, depois de anos de cabelos compridos, toneladas de shampoo, condicionador e creme pra pentear, rabos de cavalo que eram mais compridos do que a fiação elétrica e quase nenhum custo com salão de beleza, eu vi. Eu vi um cabelo tão picotado que parecia mastigado por um cavalo. Eu vi uma franja no olho bem do tipo que cega as meninas desobedientes, ahhh eu vi. E lá fui eu para um desses salões "moderninhos" que cobram quase tão rápido quanto passam a navalha por aquele enorme, comprido e bem tratado cabelo de adolescente.

Nessas horas todo mundo faz igual: fecha os olhos apertado pra não pensar na merda que está fazendo, olha pro chão e tem certeza que o Chewbacca morreu, vive a agonia do erro e imagina todos os meses que ele vai levar pra crescer outra vez. Mas aí acontece uma coisa estranha, você olha no espelho: primeiro em pânico, depois fazendo caretas variadas para testar, dá uma mexida na franja que nunca fica no lugar e descobre que sim, os dias de primo Itt acabaram, que aquele papo de personalidade começou a fazer sentindo e que em certas histórias: o sansão ganha uma força extra quando descobre a tesoura, a cera e um ventinho bem de leve batendo na nuca.