terça-feira, 24 de agosto de 2010

64 o ano que não acabou.

Eu sempre gostei de quebra-cabeças. Não era um brinquedo muito coletivo, excitante ou que os amigos do colégio corriam pra tua casa para brincar, mas eu curtia. Depois de uns anos, descobri que tem coisas na vida que são desenvolvidas para se encaixarem, mas necessariamente não seguem essa ordem. Os dentes e a superpopulação EMO/BI são os maiores entusiastas desta máxima.
Cai um, cai outro, nasce um terceiro por cima, eles não querem saber de divisão de espaços. Acreditam que estão em uma comunidade hippie, vivendo uns por cima dos outros, aquela liberdade revolucionária. Não tem como gostar de revolução quando o assunto são os dentes da gente. Logo, pede pra mãe marcar o dentista que vai te acompanhar por longos e metálicos anos da sua vida e que se inicie a dinastia do aço.
Eu nasci na década de 80, então esqueçam aquela coisa de aparelho transparente ou coladinho discretamente atrás do dente, o negócio era medieval e adquirir um era muito simples: primeiro vinham a séries de radiografias panorâmicas, uma coisa superdivertida que deve ter inspirado o escritor do filme “O homem da máscara de ferro”. Depois os moldes: gesso dentro da boca literalmente e aquela escultura celestial concebida pra ir pro MOMA, já que está tudo tão desalinhado que só pode ser arte moderna.
Enfim, chegou o dia dos expansores: minúsculas borrachinhas verdes entre os dentes com o poder de destruição maiores do que os da kriptonita. Por fim, chegou o dia de colar o negócio, FINALMENTE os sem aparelho devem estar pensando, mas quem usou sabe: uma vez colados os “braquites”, prepare-se. Eles só sairão de lá com ameaças fortes e muita persuasão odontológica.
Então, começam os melhores anos da sua existência: uma vez por mês tem dentista, uma consulta cheia de apertos e nenhum prazer (vale lembrar que é aí que maioria dos adolescentes descobre o poder do Miojo molengo). Você nunca mais sentirá fome outra vez, porque mesmo escovando freneticamente seus dentinhos, uma vez ou outra, aparece aquele restinho de almoço ou jantar, desagradável. Beijos cheios de paixão? Cuidado porque o brinquedinho de ferro adora fingir que é uma serra elétrica. Gostou? Ainda tem o reflexo nas fotos. A luz negra que brilha em TODOS os dentes da festa, menos nos que tem cola, os “braquites” engolidos e todos os utensílios de limpeza que você vai adquirir.
Então, um belo dia, você percebe que se passaram uns cinco anos e meio e que o prazo de validade daquela coisa já deu o que tinha que dar. O dentista continua achando a tua mordida torta, mas você explica que vai fazer um intercâmbio pro Ushuaia e que lá é complicado a manutenção. Lembra que ninguém, fora ele, sabe que a mordida tá torta e que não existe problema algum em ter alguns segredos nesta vida e após horas de luta, você vence. Ele sabe que está perdendo rios de dinheiro (aparelho já foi uma coisa cara, sério!), mas sabe que a batalha está perdida. Acontece a extração: F-A-N-T-Á-S-T-I-C-O! Tenho dentes outras vez e ficaram LINDOS!
Então, uma nova fase se inicia, cheia de sorrisos exagerados, mordidas equivocadas, clareamento insano e constante e línguas que não cansam de passar em cima de cada dente e lembrar que eles estão livres. Nessa história 64 é só um número. O número de meses que os meus preciosos dentinhos sofreram a tortura e sobreviveram pra contar a história. Valeu a pena.


O Dia em que eu e a Mel tiramos nossos aparelhos :)

O Dia em que a Mel decidiu tirar o dela :)

*foca meramente ilustrativa.

7 comentários:

  1. eu to mt triste q nao segui as recomendacoes do meu dentista, tirei meu aparelho e nao usei o movel

    meus dentes sao feios e tortos...

    mas eu nao aguentaria 64 meses de aaprelho.... bleeh

    bom texto

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  2. Sou do tempo que era vergonhoso usar aparelho nos dentes. Quem nasceu nos 80 transformou isso em moda. Ta... eu já entrava no dentista de boca aberta, nunca tive medo... depois que quebrei um dente num tombo de bike é que complicou... mas pode dizer pra Andressa que eu nunca usei aparelho. Texto genial, e grazadelz que não é um 64 político. Fernando Pfeff

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  3. Pra mim foram cinco anos e meio de sorriso metálico. Um pesadelo. Mas o alívio e alegria quando tu tira e vê que os dentes ficaram ótimos, não tem preço que pague! ;) E viva o molde com gosto de massinha de modelar.

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  4. Eu ia 3x por semana fazer ajustes. Isso por uns 4 meses. Ao todo fiquei 3 anos de aparelho e parei pq nao tava mais evoluindo. Ao menos era legal pq meu dentista era fã de t.rex e do ringo. Um grande sujeito. Quase chorei quando vi a replica de como meus dentes eram.

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  5. Mari, tu não existe! ehuehuehe Adorei o desfecho da his'toria e as analogias!

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  6. putz, disso eu me livrei. só usei aparelho 2 vezes na vida, e foram móveis. mas mariii seu sorriso é lindããão, valeu a pena sim!

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  7. Nem me fala dessa tortura, tinha ateh esquecido dessa epoca... Varios anos insistindo que o resultado tava legal e o salafrario do dentista sempre "nao ta bom ainda, ano que vem a gente tira" e assim passam os anos.
    Inteligente era o dente de ferro do 007 na lua, ele sim foi o primeiro adepto do "aparelho", em vez de ficar sofrendo com dentes, tira tudo fora e bota ferro no lugar!

    Grandissimo texto, eu vo escrever pro Jo te chamar!
    bjo!

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