domingo, 20 de janeiro de 2013
NEVERLAND
Todo solteiro sabe que ser avulso tem algumas vantagens indiscutíveis. Por exemplo: poder dormir com hipoglós no nariz, quando ele está assado, sem a chance de provocar um AVC no companheiro. Ler com a luz do abajur acessa do lado da cama até a CEEE cogitar o corte. Escolher suas férias, seus horários, sua comida e ir ao cinema sem falar sobre o filme ou dividir o pacote de pipoca. Mas existe algo que eu invejo nos casados: não precisar ir a caça ou ser caçado a cada final de semana.
Eu gosto de noite, tem lugares em que tudo faz sentido a ponto de fazer você querer tatuar boemia na testa. Mas o ritual de acasalamento nas casas noturnas só consegue me dar vontade de comprar um estoque de calças de moletom e assistir a 14 gigas de seriado a cada sábado. Tudo começa com o ritual, você e seus amigos (solteiros) combinam de conhecer aquele lugar novo, badalado, que está todo mundo falando bem. E todo mundo dizendo que é bom, costuma ser igual a filmes que todo mundo adora: sucesso de bilheteira com pouco conteúdo interessante.
Então, você toma banho, faz escova, consulta a Susan Miller, pinta o olho, escolhe uma roupa que dificulta brutalmente o processo de respiração e coloca um belo sapato. Desses que vai fazer você sentir a mesma dor nas pernas que um maratonista com a tíbia quebrada no final de uma prova. Ao chegar no lugar, você enfrenta a fila. A fila é um lugar ótimo onde a maioria das pessoas fura ou bebe, enquanto a casa noturna te deixa lá para ver se faz movimento e mais gente entra na fila. Após duas horas, você cruza a porta de entrada do local e ruma ao único lugar correto a 1h30 da manhã: o bar. Nesse momento, com uma long neck de R$12,00 na mão, a aventura começa.
A pista, lotada, toca uma música ruim numa altura em que é um desafio para qualquer tímpano sair ileso. As pessoas, supereducadas, pisam em você, empurram, derrubam cerveja no seu cabelo (já com a escova derretida) e piranhas loucas (com a escova intacta) dançam no ritmo do funk mesmo que esteja tocando Sinatra. Nesse momento, você pensa que deve estar na hora de voltar para o bar, um lugar que é mais a sua cara. Lá, 3800 meninas com sminorffs Ice quentes estão encostadas no bar. Próximo a elas, um coletivo de homens com long necks com guardanapo chegam junto com perguntas que fazem qualquer mulher se apaixonar no ato "E aí, tá gostando da festa?" ou "O que tu faz, gata?" ou "Tá torcendo pra quem no BBB?". Alguém me mata? Sério que estou gastando R$100 nisso? Por que não comprei uma pizza?
Enfim, você vê um cara interessante, o seu número, ao contrário do sapato que já dilacerou o lado direito do seu pé. Ele te olha, você olha de volta. Ele te olha, você olha de volta. Ele te olha, você olha de volta. Após 30 minutos, ele chega (Glória, glória, aleluiaaa. Glória, glória, aleluiaaa. ). Ele chega, gato. Parece um tigre sondando a caça, totalmente animal planet. E daí ele diz: "Oi, gata. Me diz uma coisa. você tem pó?". Oi? Tenho cara de quem cheira? "Não guria, pó de arroz. To suando muito e minha pele tá brilhosa". Fim da noite. Ele era gay.
Finalmente você chega em casa, a alegria do lar. Suja o travesseiro de lápis de olho, toma uma aspirina preventiva e encerra os trabalhos. No outro dia, encontra os amigos pra fazer o balanço da noite e pensar que na semana que vem vai ser melhor. Afinal, se você não fizer isso como vai conhecer alguém pra dividir a calça do moletom, ir direto para o bar e compartilhar a aspirina? Põe meu nome na lista, eu vou.
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Vida de solteiro é complexo. Na minha atual fase de solterice tenho evitado esse tipo de programa porque é dureza mesmo. Se é para tentar conhecer alguém prefiro ambientes mais calmos onde o ritual de acasalamento possa ser mais produtivo! :)
ResponderExcluiro encontro vai acontecer no café da manhã na panificadora, ou no restaurante que vc almoça perto do trabalho, ou no metrô ou no happy hour no violeta, ou até nesta tal balada...qdo vc chegar,ele vai estar lá te esperando...
ResponderExcluirMas em que lugares tu tem ido, tchê?
ResponderExcluirSe eu falar seria anti-ético. Mas posso dizer que um club com números famoso em Porto Alegre.
ResponderExcluireu sou baladeiro nato, azucrinador de grau maior a vagabundo convicto. Mas digo, achei umas pecas legais nos dating websites que ainda estao em andamento e ta sendo bem divertido. Bem melhor que festa se for pra achar alguem interessante :)
ResponderExcluirPior é que só aparece quando tu para de procurar, que tu pensa: foda-se essa merda e dai ta lá a pessoa.
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