quarta-feira, 16 de novembro de 2011

TODO CARNAVAL TEM SEU FIM.

Quando eu era criança, meus pais me proibiam de assistir novelas. Durante anos eu sofri no mármore do bullying  por não saber o que a Babalu tinha dito para o Raí, se o filho da protagonista tinha sido roubado, trocado, clonado ou quem matou a Odete Roitman. No fim, anos depois, quando eu já podia ver quantas novelas eu quisesse, cheguei a conclusão que meus pais fizeram bem em conservar o meu jovem cérebro no vinagre e me incentivar a ter uma visão menos Manoel Carlos da vida. Analisando tudo isso, tomei uma decisão de conservar a sanidade da minha futura filha imaginária e não deixar que ela assista comédias românticas. Mal amada? Não. Mal comida? Não, não. Tudo isso, será por um bem maior, o de poupar o " pequeno projeto de mulher" de todas as expectativas assimiladas em anos de "viveram felizes para sempre", "não vivo sem você", "a gente se conhece de outras vidas", bla bla bla.

Toda essa cultura do amor nos transforma em loucas, psicóticas, fantasiosas e infelizes mulheres. Na adolescência, você que de cheerleader não tem absolutamente nada, assiste loucamente a filmes com a estrutura: menina não popular da escola conhece menino (extremamente gato) que fez uma aposta para conquistá-la e depois abandoná-la. Mas a menina não popular é extremamente legal e incrível e apaixonante, como todas as gurias rejeitadas de 15 anos são. No baile da escola, alguém dá um banho de loja na pobrezinha e ela, além de tudo, fica linda e beija o principe encantado. Então, acontece alguma desgraça genérica, ela descobre que o menino (extremamente gato) estava enganando ela. Mas como a vida é linda nas comédias românticas, ele aparece no meio do recreio cantando uma música tipo I'll be there for you, todos percebem o amor dos dois, beijo na boca, nada de mão na bunda, final de feliz. O problema é que você, guria de 15 anos que assistiu isso 38x na sessão da tarde, também está muito apaixonada pelo gatíssimo guri do colégio, só que ao contrário do cinema, ele não vai ficar contigo na festinha, ele vai preferir a gostosa, e a única chance de se escutar I'll be there vai ser chorando rios no quarto como as adolescente fazem.

Então, você começou a namorar, que coisa linda, que coisa mágica! O coração na boca, a ansiedade sentida no estômago. Quantos filhos a gente vai ter? Nossa casa vai ter dois ou três andares? Quer conhecer meus pais? Então, um dia, o carnaval chega ao fim, as fantasias foram abandonadas, e a única coisa que você consegue pensar é que esqueceram de te avisar que estava na hora de tirar a roupa de palhaça. Mas como a boa pessoa que viu 150 comédias românticas tem problemas em entender o significado de A-D-E-U-S, você vai mandar e-mails enormes, cartões em forma de coração, pirotecnias, vai achar que ficando mais bonita, mais magra, mais tudo, ele vai perceber a sua falta. Vão cair folhas cor de outono, vocês vão se encontrar e perceber que o tempo parou e vai rolar aquele beijo cinematográfico... NOT.


Por fim, você vai chegar a idade adulta. Aqui as ilusões já estão bem mais pra "Pontes de Madison" do que "Dez coisas que eu odeio em você". Você já passou umas dez vezes pelo "Brilho eterno de um mente sem lembranças". Até porque, todo relacionamento é diferente, mas o sentimento do término é sempre o mesmo, "me deixa esquecer". Você chegou no momento, como diz a minha tia, que ele até pode ter uma verruga que você vai achar charmoso, contanto que seja um cara legal e te faça rir. Mas daí, você entra no trem achando que vai vivar o "antes do amanhecer", vai comer torta achando que vai receber um "Beijo roubado", vai passar dias e dias esperando ser excessão pra descobrir que "é regra" e que deveria parar de criar expectativas com o que só existe em roteiros e tentar ser feliz com o que existe e é palpável.

De qualquer forma esse não é um post amargurado, é um post reflexivo. Assim como nem todo mundo mora em Ipanema na novela, nem todo amor é de filme. Minha filha fictícia não vai assistir comédias românticas, não para não saber que existe amores que deixam a gente louco. Mas para quem sabe, ao contrário da maior parte das mulheres, não fantasiar o que significa uma mensagem não respondida, um msn que não abre a janelinha, um telefone que não toca, alguém que nunca pode sair com você, um beijo que não foi dado, alguma coisa que não aconteceu, todas as coisas que não foram ditas e provavelmente não serão. Ela vai sonhar menos com o improvável e com o maldito príncipe encantado e conseguir ver a verdade, que por sermos umas bobas, fingimos não ver. Se vai funcionar? Duvido. Um dia ela vai entrar em um trem, conhecer alguém em uma noite para se passar a vida inteira e quando ver... matar um carneiro. Afinal eu acredito em finais felizes até para textos de blogs.

8 comentários:

  1. Sim, as vezes eu acho que eu vivo mesmo num filme =(

    and you're just too good to be true.

    Parabens pelo texto! curti muito.
    =))))

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  2. mas ainda é muito bom se apaixonar... =)

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  3. carneiro assado é sempre o final mais feliz possível. inclusive pra amores.

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  4. Rá!
    Eu sempre soube que a culpa era toda da TV.

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  5. AI MAAAARIIII, como sempre um ótimo texto...!!!! credo, é incrível o que esses filmes, contos de fada etc fazem com a nossa cabeça, é uma merda. só depois de MUITA porrada a gente vai caindo na real... e leva tempo, tipo uns 27 anos! hahaha

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  6. Liiiiiiiiiiinda brutinha! ;*****

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  7. É Mari, acreditar nessas ilusões de amor perfeito como nos filmes e novela, é algo que devemos evitar, pois quando descobrimos a realidade, a gente descobre como a vida realmente é. A felicidade com outra pessoa é possível, mas nãos nos moldes dos contos de fada televisivos.
    Mais uma vez parabéns pelos seus maravilhosos textos. :)

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  8. Quem sabe todas um dia consiga sair do "ele não está tão afim de você" ?

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