terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Tradutor Estrelar

Todo ser humano passa por períodos de instabilidade, dúvida, raiva, busca por vingança, dor de corno, baixa auto-estima e falta de motivação. Deve ser normal, se não o Woody Allen não faria tantos filmes e os livros de auto-ajuda e espiritismo não venderiam mais do que o Senhor dos Anéis. Porém, se a sua inquietação quanto ao futuro está próxima de atingir níveis fatais, alguém vai te indicar uma espécie de “curandeiro” da alma: o astrólogo. Óbvio que na hora parece uma excelente ideia e que os seus problemas estarão resolvidos em poucas horas. Rá, humanos!
Liguei para o número indicado sob comentários “em chamas”: “esse cara é foda”, “infalível”, “acertou até quando meu tio iria morrer”, “vai mudar a tua vida”. Uma secretária eletrônica me atendeu, deixei meus dados para contato, data e hora de nascimento e esperei meu espaço na agenda do celebre tradutor de estrelas.
No dia marcado, em uma sala que cheirava a incenso e cigarro, tive a minha consulta: interpretação perfeita da minha vida familiar, em alguns momentos beirando o assustador já que o cara falava de coisas que aconteceram há milênios (lembra aquela vez que você pediu isso e aconteceu aquilo?), dicas profissionais de grande valia, incentivo para tomar decisões, uma avaliação mês a mês do próximo ano, a garantia que um grande, louco e irresistível amor vai aparecer na minha vida, mas só depois de setembro e pode ser estrangeiro. "Fique Atenta!" Entre outras coisas. Saí de lá feliz! Empolgada com o ano que estaria começando, com um CD inteiro de previsões para ir acompanhando mensalmente. Uma verdadeira terapia fast-food: apanha na cara pelos erros, recebe uma sardinha pelos acertos e ganha a promessa de um futuro muito melhor do que o “felizes para sempre”. Uma injeção de animo por R$250,00, pagos parceladamente com cheques da conta universitária do Banrisul.
Eu fui três anos seguidos, minhas amigas e amigos também, as mães das minhas amigas também, os namorados e namorados das minhas amigas também. Então, um dia, eu percebi! Notei que se uma previsão não acontecia no mês indicado e se confirmava seis meses depois, eu perdoava. Que se o aumento de salário não veio, era culpa do eclipse. Que se o telefone não tocava, era porque só podia ser o cara errado: “não conheci ele em setembro, burra. Óbvio que não valia a pena. Não ligarei também”. Minhas previsões eram um placebo pra eu ficar “tranqüila” porque o próximo mês ia ser muito melhor. Então, em agosto desse ano, eu não fui refazer o meu mapa astral. Me senti uma herege, a própria Maria Madalena antes de fazer strip na mesa da santa ceia. Mas eu sobrevivi: unhas foram comidas, R$250 reais viraram livros, roupas ou álcool e em dias de ansiedade brutal eu me dei uma coca-cola normal e cheia de açúcar de Jesus de presente.
De qualquer forma, não me arrependo. Foi legal. Agora, eu sei que sou uma sargitariana de 02/12/82 com ascendente em leão e que por isso eu sou braba, perco os limites facilmente, falo o que eu quero e misturando o fogo com fogo dos signos tenho uma personalidade difícil (não que até o cobrador do ônibus já não soubesse disso, mas agora o dado é acadêmico). Nesses tempos de final de ano tudo o que a gente quer é que baixe alguma coisa e diga “calma. Tudo vai dar certo. Tu vai pagar tuas contas, comprar um vídeo-game, fazer um mochilão e quem sabe atropele um carneiro pelo caminho ou não precise mais abrir o vidro de pepino”. Ninguém vai me dizer isso esse ano, que bom! Entre uma úlcera e outra, vou vendo o que os Norms (http://br.groups.yahoo.com/group/Euthimia/message/80) vão fiando pra mim. Mas por via das dúvidas, vou lendo o astrology zone, porque vai que né... deixo passar alguma coisa importante quando saturno entrar no quadrante de escorpião. Chega 2011!

4 comentários:

  1. Ah, Mari. Chega aqui no Rio e nós damos um jeito nisso. Depois vai ver que nenhum planeta é pareo para um sol quente e umas cervejas geladas. Até por que a razão de atração entre as massas é muito maior entre o seu copo e a garganta que entre o seu corpo e a lua, por exemplo.

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  2. Lembra daquele velho na frente do Opinião que fez um monte de previsões de viagens em troca de uma long neck? R$250,00! Lembra o que ele disse pra cada um de nós? Lembra o que ele disse pra mim? Por uma long neck? R$250,00... Ainda não acredito.

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  3. Merda! Esqueci, li e comentei... É a última vez!

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