segunda-feira, 16 de agosto de 2010

O inferno é laranja

Quando se mora longe, se olha demais para o marido da próxima e se bebe muito, Deus em pessoa seleciona o castigo. Ele é laranja, imprudente e sem nenhum glamour: costuma ser chamado de taxi from hell, o castigo dos atrasados. Se tá chovendo, eles não param. Se você faz sinal para a lotação, param na frente te impedindo de pegar o transporte econômico. Se você ultrapassa, te perseguem. Se estiver atrasado, andam lentamente. Se não tem dinheiro, escolhem o caminho mais longo.

Sendo impossível não utilizá-los, tudo o que se espera é que o competente motorista consiga chegar ao endereço solicitado, mas nem isso. É o festival das dúvidas. O show do milhão da falta de localização. Tudo isso, porque o cara tem um GPS e provavelmente acha que é decorativo porque usar o equipamento, nem pensar, gasta. Como a maioria é homem, não podem pedir informação e assim, fica o taxímetro correndo enquanto o condutor maravilha reclama que o passageiro não sabe o caminho. Não que se soubesse adiantaria alguma coisa, porque como bom taxista, ele não iria aceitar o caminho e inventaria um trajeto alternativo e supervantajoso. Pra ele, óbvio.

Porém, dentre tantos destaques profissionais, faço deste blog um meio de reconhecimento. Uma manifestação humilde frente ao mérito destes gênios do trânsito e ases do asfalto.
Menção Honrosa: taxista de confiança a gente sempre chama mais de uma vez. Com a “intimidade” crescendo, o velhinho vai buscar a passageira em uma festa na zona sul. Então, a vê dando um beijo de tchau no “pegadinha” da vez. O cara é da família, já levou a guria três vezes pra casa, por isso reclama do cheio de cerveja, diz que beijar na rua é feio pra uma moça e que não gostou da cara do bofe. Obrigado vô, da próxima vez eu pergunto para o senhor antes de ficar com alguém se o senhor aprova.

Anuário: sexta-feira, três amigas pegam um taxi para irem jantar na cidade baixa. O motorista irritado porque o trio é muito falante, aumenta o volume do rádio para que um taxista no Himalaia consiga escutar as informações das condições do trânsito. Não contente em fazer o caminho até o jantar parecer o desembarque na Normandia, na hora de pagar, fica indignado porque as passageiras só têm notas de vinte e ele ODEIA notas de vinte. Mico pra gente que teve que descer no restaurante e pedir pro caixa trocar as notas se não ele não iria embora.

Bronze: a dupla de criativas sai do trabalho e pega um taxi de uma consagrada empresa da capital gaúcha. O condutor, muito simpático, gasta os próximos 20 minutos falando que adora quando as mulheres se assumem e se beijam dentro do taxi dele. Quando o taxista tarado finalmente entende que as gurias não são lésbicas, oferece seus serviços de macumbeiro. Tiro e queda pra quem tá encalhada. Pra completar, detalhes íntimos da vida conjugal dele e da “gatinha” de 22 anos que ele pega frequentemente e gasta mais de R$6.000 pra manter, mas que é um investimento. Né?

Prata: Filho da amiga com dentista marcado, atraso, pega um taxi para facilitar. O motorista pensa que é descendente de uma linhagem de pilotos fantásticos. Corre, passa no sinal vermelho, buzina pras velhinhas na rua. Diz que vai matar o cara do fuca e finalmente é “fechado” por um outro carro. Toda a calma e o bom senso que se espera do motorista é superestimado: ele para o carro, desce e sai correndo gritando: se eu tivesse um trator passava por cima seu filho da puta, volta aqui pra eu poder te dar um tiro na cara, volta se tem coragem. E o carro com um adesivo “Bernardo a bordo” foge correndo pra desviar de tanta educação no trânsito.

Ouro: quatro amigos saem do Beco, uma levemente mais alcoolizada. O grupo entra no carro anda menos de uma quadra e escuta: essa guria não vai vomitar dentro do meu carro. A passageira que estava levemente bêbada diz: não, pode ficar tranqüilo. Mas se não quiser nos levar a gente troca de taxi. O que ele faz? Para, óbvio. Desce do carro, vai até a porta em que a guria está sentada, abre e dá um soco na cara dela. Sério, isso não é um fato meramente ilustrativo, aconteceu a menos de um ano. Os amigos, chocados, tentam contornar a situação enquanto a boca da passageira sangra. Os outros taxistas do ponto vem ajudar. Ajudar ele e bater nos outros passageiros. Afinal, o motorista tinha toda a razão.

Ahhh, todo o bom senso no trânsito. A-D-O-R-O. É por essas e outras que o projeto: um carro para chamar de meu entrou em ação. O dia que eu conseguir passar pela prova Jedi e desenvolver o feeling da troca de marchas, vou comprar um trator e passar por cima deles. Aprendi direitinho.

3 comentários:

  1. No Rio de Janeiro o inferno é amarelo. Dizem que na Cidade do México é verde. Em NYC eu não sei que cor é mas os motoristas tem sotaque indiano. Mas tem um lugar que um curso de boas maneiras é condição sinequanon para os taxistas, em London, London. E lá os carros são pretinhos básicos. Classudos, austeros. Acho que é um aviso. Enfim, adoro teu texto como sempre... Parabéns, e dá proxima vez me dá uma carona! F.Pfeff

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  2. Como eu estava em quase todos os eventos citados, começo a pensar que ando olhando demais para os maridos alheios.. =/

    Beijos, Mari.

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  3. nossa... eu li o post logo que foi publicado, mas preferi não comentar. sério, eu tenho PAVOR de taxista... aqui em sp parece que eles NÃO DEVEM fazer exame pra dirigir, porque TODOS são péssimos. ó, só de escrever eu já começo a tremer de ódio! hahaha mas o post é muito bom, como assim o cara deu uma muqueta na menina? ABUSADO!

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