terça-feira, 27 de julho de 2010

Um dia de fúria

Tem dias que eu acho que o mundo foi invadido por zumbis, mortos vivos com baba e sangue verde escorrendo pelas ruas. Tenho a impressão de que em cada grupo social foram infiltradas milhões de gurias que não rasgaram suas meias-calças na infância, meninos que não desceram a rua correndo de bicicleta e ralaram os joelhos, amigos que não dividiram a mesma garrafa de Fanta com medo de pegar uma dessas doenças mortais que os pais adoram propagandear.

Tudo bem que existam pessoas que são mais “ativas” do que outras, mas na grande maioria dos casos, desculpem, o que falta mesmo é tesão pela vida. Tenho uma amiga na Europa, ela e suas “amigas” intercambistas foram para a Espanha passar o final de semana, quando? Na final da Copa do Mundo. O país inteiro pintado com o vermelho da fúria, espanhóis nadando nas fontes, chafariz de sangria, as “amigas” decidiram ir embora antes do jogo porque iam pegar muito trânsito e precisavam acordar cedo. Trânsito? Dormir? Oi, manda o mundo parar que eu vou d-e-s-c-er.

E isso não é só um caso isolado de falta de alcalina do sangue. É ir para a Argentina e as pessoas preferirem ficar no quarto do hotel a conhecer a cidade. É não tomar banho de mar no Uruguai porque a água está gelada. É trabalhar uma vida inteira com uma coisa que odeia. É o cara que nunca pode dar uma passadinha no happy hour porque de segunda a domingo tem academia e novela. É quem não prova uma comida diferente porque “pode dar revertério” ou a amiga que nunca mais saiu de casa porque está namorando.

Eu sei que eu sou um pouco mais “agitada” do que a maioria das pessoas. Pode ser também que eu seja uma menina mais “parede de escudos” do que “onde estão minhas aias?” e por isso tenha certa dificuldade em entender esse comportamento moribundo. Mas, todos os dias, eu fico um pouco mais cansada dessas pessoas que passam do lado do muro de Berlim, o vêem cair e atravessam a rua pra não sujar a roupa de pó. Que não podem rir de nada ou falar nada porque sempre acham que o “humor” ofende ou não comem batata frita porque dá cheiro no cabelo.

É clichê, mas até que volte alguém do além e coloque tudo no youtube, eu prefiro acreditar que a gente só vive uma vez e não dá pra perder tempo com todos os tipos de frescuras, preguiças, dorzinhas, medinhos e desculpinhas que se possa inventar. Dorme mais tarde. Viaja para ganhar bolhas nos pés em vez de se fechar em uma bolha, pensa no cara que o maior medo da vida era “jamais partir e ficar sempre esperando a hora certa”. Sinceramente, eu acredito que só existam dois tipos de morte: a que acontece cedo, porque pra quem gosta de viver ela sempre chega antes da hora; e a por tédio. E se continuarmos assim, não vai ser o stress o mal do século.

7 comentários:

  1. Concordo contigo. Só não te estressa. Enquanto tivermos banda larga e livre arbítrio, pra que ficar perto dos moribundos? ;)

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  2. E tira moderação de comentários e os captchas po! Isso é coisa de gente que não sabe curtir a vida ehehehe

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  3. Embora não tenha um décimo do teu "pique",concordo plenamente que tá difícil suportar toda essa neutralidade,esse gosto insosso de destempero emocional,essa falta de vitalidade nas veias. Fico feliz que penses assim e que sejas assim ,sempre plugada na VIDA.
    Proud mother

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  4. Olha, conheci o teu blog atraves da Bruna e confesso que gosto do que leio aqui, tem vida, pulsa, grita,sacrifica goleiros europeus,esperneia,mergulha...
    A letargia e o mal do seculo, depois o pessoal reclama da "era do tedio"!!!
    Esses espiritos demasiadamente racionais precisam de um pouco de calor mesmo...
    Abracao,menina...

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  5. porra, mari... emocionei, sério. disse t-u-d-o. parece que o mundo tá anestesiado, ninguém quer emoção, quer só o feijão com arroz...

    sempre que eu convido alguém pra sair no meio da semana ouço a mesma resposta "ah, mas amanhã tem que acordar cedo pra trabalhar"... OI, AMIGO?! EU TAMBÉM! mas estou VIVA!

    hoje mesmo estava me maquiando e falei pra uma colega "a gente podia ter a opção de não dormir né?! porque tem TANTA coisa que eu quero fazer, e tenho que perder tempo dormindo!!!!"

    bom, é isso... só um mini desabafo...! tô contigo, babe...

    beijos!

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  6. Meu Deus! Como eu conheço mortos-vivos! O bom é que estando perto deles nos sentimentos mais vivos, mais alcalinizados, adrenalinizados mas temos que nos cuidar pra não ocorrer o contrário e sermos contaminados por... Nããã! Isso não tem a menor possibilidade de nos acontecer.

    Em Tempo: quando eu crescer quero escrever "igual que nem que tu"

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  7. Aê guria, tô emocionada com tua "verve literária"! Tá bom, sei que és redatora, mas tem tanto médico doente, nao?
    Essa bundamolisse da galera tá produzindo a era da depressao. Bom saber que vc jamais vai precisar de um rivotril! eh eh. E viva a vida!
    bjssssss
    Lidia Mancia

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